domingo, 5 de agosto de 2018

Meu querido mês de Agosto.

O mês de Agosto é particularmente difícil. Trata-se de um mês exigente em termos de trabalho, pois a ausência de alguns colegas de trabalho leva à necessidade de reforço de funções. No entanto, hoje escrevo-vos sobre o papel das famílias neste mês em especial.
Na freguesia em que trabalho há uma predominância de emigrantes em França, grande parte deles, filhos de utentes das respostas sociais que coordeno (Estrutura Residencial para Pessoas Idosas e Centro de Dia). Aproveito a sua presença para regularizar os processos individuais dos utentes (esclarecimentos acerca da comparticipação mensal, apresentação do Plano Individual e diálogo sobre a sua situação clínica). E nesta parte, além da dificuldade em recordar um ano de trabalho, há ainda a dificuldade por parte destes familiares em compreenderem o sistema português que condiciona e limita tanto os direitos dos nossos utentes, quando comparado com o sistema francês. O que eu sinto é que ao longo dos anos tenho maior facilidade em responder às questões que me colocam, e a maneira como o outro lado responde, concretamente as famílias, é numa lógica de confiança. Porque é isto mesmo. Confiam em mim e na instituição que represento para cuidar dos pais e gerir as suas necessidades.
Outra particularidade deste mês é o aumento das inscrições para lar. Se eu vos disser que recebemos uma inscrição por dia, acreditam? Chegam famílias desesperadas porque encontram os seus pais sem cuidados mínimos e numa situação de dependência grave que não faziam ideia e têm hoje de lidar com ela. E lá vem a tão frequente resposta "De momento não temos vaga". E esta ausência de vaga alarga-se a todas as respostas sociais de que a instituição dispõe. É feita a inscrição que integra uma lista de espera que ultrapassa as 160 inscrições e oferecida uma listagem de instituições do concelho para que o familiar requerente alargue as inscrições, manifestando a sua falta de esperança. E eu pergunto: para onde caminhamos?



Contudo, nem tudo o que se vive neste mês tão exigente é mau. Assisto ao reencontro das famílias dos nossos utentes. A ansiedade em que vivem por saber que chegou Agosto e os seus "filhinhos" estão para chegar. Vivo os seus sorrisos, as suas lágrimas e as suas expressões felizes por se sentirem completos. Uma utente minha partilhou comigo ainda esta semana a expressão "Afinal ainda tenho vida!". Não é bom? Com isto, e para concluir, que o amor, tenha ele ultrapassado montes e vales, doçuras e amarguras da vida vale tudo. Uma história mal resolvida, a falta de apoio para determinada necessidade, a ausência de meses a fio sem qualquer telefonema... Tudo isto é esquecido com um abraço choramingão! ;)

1 comentário:

  1. Grande tema! Parabéns pela reflexão e pelo testemunho... Há tanto a fazer para que o nosso país tenha capacidade de dar qualidade, para que os nossos idosos vivam felizes.

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