Na freguesia em que trabalho há uma predominância de emigrantes em França, grande parte deles, filhos de utentes das respostas sociais que coordeno (Estrutura Residencial para Pessoas Idosas e Centro de Dia). Aproveito a sua presença para regularizar os processos individuais dos utentes (esclarecimentos acerca da comparticipação mensal, apresentação do Plano Individual e diálogo sobre a sua situação clínica). E nesta parte, além da dificuldade em recordar um ano de trabalho, há ainda a dificuldade por parte destes familiares em compreenderem o sistema português que condiciona e limita tanto os direitos dos nossos utentes, quando comparado com o sistema francês. O que eu sinto é que ao longo dos anos tenho maior facilidade em responder às questões que me colocam, e a maneira como o outro lado responde, concretamente as famílias, é numa lógica de confiança. Porque é isto mesmo. Confiam em mim e na instituição que represento para cuidar dos pais e gerir as suas necessidades.
Outra particularidade deste mês é o aumento das inscrições para lar. Se eu vos disser que recebemos uma inscrição por dia, acreditam? Chegam famílias desesperadas porque encontram os seus pais sem cuidados mínimos e numa situação de dependência grave que não faziam ideia e têm hoje de lidar com ela. E lá vem a tão frequente resposta "De momento não temos vaga". E esta ausência de vaga alarga-se a todas as respostas sociais de que a instituição dispõe. É feita a inscrição que integra uma lista de espera que ultrapassa as 160 inscrições e oferecida uma listagem de instituições do concelho para que o familiar requerente alargue as inscrições, manifestando a sua falta de esperança. E eu pergunto: para onde caminhamos?
Contudo, nem tudo o que se vive neste mês tão exigente é mau. Assisto ao reencontro das famílias dos nossos utentes. A ansiedade em que vivem por saber que chegou Agosto e os seus "filhinhos" estão para chegar. Vivo os seus sorrisos, as suas lágrimas e as suas expressões felizes por se sentirem completos. Uma utente minha partilhou comigo ainda esta semana a expressão "Afinal ainda tenho vida!". Não é bom? Com isto, e para concluir, que o amor, tenha ele ultrapassado montes e vales, doçuras e amarguras da vida vale tudo. Uma história mal resolvida, a falta de apoio para determinada necessidade, a ausência de meses a fio sem qualquer telefonema... Tudo isto é esquecido com um abraço choramingão! ;)
Grande tema! Parabéns pela reflexão e pelo testemunho... Há tanto a fazer para que o nosso país tenha capacidade de dar qualidade, para que os nossos idosos vivam felizes.
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