Estou a dois dias de me casar, e sinto-me viajar numa
nuvem de amor, dedicação e carinho. Imagino um dia muito feliz! Mas jamais
contava com tantas dedicatórias e com
tanta entrega e felicidade pelo meu dia. A minha família, os meus amigos, os
meus colegas de trabalho, os meus utentes e os meus alunos. Todos sem exceção!
E sinto-me vibrar com tudo aquilo que me têm proporcionado! Estou repleta e
grata por tudo o que tenho.
Hoje quero falar de amor. Diz-se por aí que o amor
não tem idade. E é verdade. Trabalho com adultos e idosos, a maioria portador
de limitações e dificuldades. Mas hoje quero falar de um caso muito particular
que conheço já há alguns anos. Um casal especial que viveu durante muitos anos
em amor. Falo no passado porque a senhora faleceu há dias, mas esta história
tem que ser divulgada ao mundo. E eu tenho a sorte de ter feito parte dela.
Um casal que não era casado. Ele tinha uma idade
avançada, era o segundo marido e desta união resultou um filho que morava na
França. Era afásica. Era difícil perceber o que ela nos queria dizer, mas isto
nunca foi problema para ela. Ela ria-se da nossa cara quando percebia que nós
não percebíamos. Frequentava o Centro de Dia. Recordo-me de, ainda em estágio,
ela chegar e beijar todos os utentes e colaboradores sem exceção. Ele é cerca
de 15 anos mais novo. Padece hoje de uma demência e a sua condição física
viu-se prejudicada após queda e fratura. Frequentava o SAD. Nós somos a família
deles! O único filho em comum reside em França e os restantes foram-se
afastando ao longo dos anos. A situação familiar tornou-se tão vulnerável, que
acabamos por promover a sua institucionalização. Ele encarou isto como uma
oportunidade de viver melhor, ela nunca aceitou. Apesar disto tudo, e de haver
um cansaço e incompreensão por ambas as partes, sempre se manteram unidos. Não
conseguiam estar separados muito tempo. Não havia proximidade física, assim
indelicada, como se espera. Havia amor. Amor transmitido no olhar. Havia
dedicação. Havia aceitação por parte dele face àquelas dificuldades. Havia
ciúme dela por ele ser tão próximo e carecer de afeto por parte da equipa. Ela
não falava e era complicada. Mas havia amor. Havia uma preocupação mútua de
saber como e onde estava. Havia uma mão sob a outra em jeito de afeto. Havia
respeito. Havia amor. E nada mais é importante do que o amor.
Ela faleceu há dias. E dele não caiu ainda uma
lágrima. Há mágoa guardada no vazio do olhar. Uma voz embargada. A dúvida de se
o que aconteceu e real. A saudade para quem fica, o vazio de quem foi.
Não são precisas mais palavras. O amor é tudo isto. O
amor vence tudo. Coração que ama não tem idade. E eu sou repleta de amor.